Nove e quarenta e cinco. Calor de outubro. Muita confusão lá fora, calma aqui dentro. Fios de telefone no chão. Tintas e pincéis no piso envernizado - escorregadio. Misturou-se à tinta do seu corpo e com seus cabelos cortados e com tudo de belo que ele escrevera, agora apresentado em desfiguras aleatórias. Ainda o gravador, que toca música que faz chorar, como no abraço que faz chorar.
Há um escrito na parede, mas agora estou cego. Vislumbro a fragilidade em ser humano. Nossa condição de ser quem quiser, sem nunca chegar à conclusão do ser. O quarto não tem cor nem movimento. Sua percepção dá-se pelo mero fato de eu ser humano que enxerga antes de reconhecer. O quarto não faz sentido. Existe externo à minha vontade.
Sento no chão, muito perto do meu medo. Noto uma vela ao meu lado. A cama bem-arrumada. Triste. O cheiro. O cheiro que antes convida. Já não reproduzem música. Não serve a que trouxe comigo.
Lembro quando dizia que queria uma filha enquanto ainda era jovem.
Todo o tempo de luz apagada e tinta de caneta borrada fazem sentido. Todo dano faz sentido, eu queria que não.
Fito sua parede.
Epifania.
"Peguei a chave de meu pai, estou me mudando."
Me dá um abraço
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